Se Jesus fosse o redator-chefe

Por Richard J Foster

Jesus Cristo convida todas as pessoas em toda parte a que sejam seus discípulos. Discípulo é o indivíduo que pretende viver como Jesus viveria se estivesse em seu lugar.

Envolto nas sombras da História

A dificuldade é que o lado prático desse assunto anda meio obscurecido, pois, para nós, Jesus se encontra coberto nas sombras da História. Nossa grande dificuldade nessa situação é que a imaginação religiosa de pessoa moderna está muito limitada. Só enxergamos Jesus no primeiro século, em Israel, numa sociedade primordialmente agrária, entre indivíduos que usam mantos e sandálias rudimentares. 

Não conseguimos imaginar Jesus na pele de um redator-chefe, por exemplo, ou de um programador de computadores, um técnico de laboratório, ou de um operário da construção civil, ou de um estudante universitário. Será que poderíamos imaginá-lo hoje na sala dos funcionários de uma grande loja de departamentos, em conversa com os colegas? Porém, se quisermos viver como discípulos de Cristo em nossos dias, é essa espécie de circunstância que temos de conceber.

Em todos os aspectos da vida

Isso se aplica a todos os ângulos de nossa vida, e não apenas aos momentos de situação sobrecarregada ou de decisões espinhosas. Se eu fosse o redator-chefe de uma revista, por exemplo, eu me perguntaria: Como Jesus agiria se estivesse em meu lugar?

Essa pergunta não diria respeito apenas a que tipo de artigos escolheria para minha editoração, embora essa atividade também estivesse incluída na situação. Seria uma análise mais acentuada, abrangendo toda a minha vida: minhas leituras, minha prática da oração, os momentos em que estou sozinho, meu relacionamento com outros, meu lazer, as horas de sono e muitas outras situações. Tendo considerado sobre isso, iria tentar nivelar minha existência por um modelo que fosse semelhante ao de Cristo.

Talvez alguém diga: E como vou saber qual é o modelo certo?

Para começar. não existe um modelo "certo". Cada pessoa, com sua personalidade, situações e necessidades próprias, precisa de um modelo exclusivo. Além disso, isso não é tão difícil como imaginamos. Basta que leiamos os evangelhos, para termos uma visão prática da vida que Jesus deseja que tenhamos. É claro que a veremos no contexto da sociedade relatada pelos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João, mas com um pouco de esforço conseguiremos fazer a transposição para a nossa situação em particular. Além de que Jesus está vivo, se de todo coração e com humildade, quisermos conhecer os seus caminhos, Ele nos orientará.

A graça no discipulado

E isso é o extraordinário no discipulado de Jesus. Quando o buscamos de todo coração, Ele nos encontra. De nosso ponto de vista, pode parecer que nós é que estamos buscando a Deus, que o estamos procurando, insistindo. A realidade é que quando buscamos ao Senhor é porque Ele já começou a nos buscar antes. É como afirma Frederick von Hugel: "Deus sempre age antes de nós." Portanto, nosso discipulado é, na verdade, para nós é uma ação reflexa; é Deus nos buscando, estendendo-nos sua graça.

Esse fato constitui um grande ânimo para o crente. Jesus, o nosso eterno Salvador, Mestre, Senhor e amigo, está a cada instante conosco. Seu convite para que nos tornemos seus discípulos vem carregado de graça e misericórdia; Ele nos chama a que nos coloquemos sob o mesmo jugo em que está. Necessitamos aprender a dirigir nossos passos pelos passos de Jesus. Dessa maneira, Ele nos revelará o caminho certo e nos concederá os recursos de que precisamos para palmilhá-lo.

E.A.G.

Artigo adaptado, extraído da revista Mensagem da Cruz, número 109, abril a junho de 1996, Editora Betânia S/C. Venda Nova - MG.